Os senadores que ouviram representantes de construtoras responsáveis
pelas obras de transposição do Rio São Francisco não esconderam a
frustração com a audiência pública ocorrida na tarde desta terça-feira
(19). Eles se disseram decepcionados com a falta de explicações sobre os
atrasos das obras e reajustes de preços, mas também reclamaram pela
ausência de seis dos 11 convidados.
Como resposta, a comissão
especial externa que acompanha as obras aprovou um requerimento em que o
senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) pede cópias de todos os contratos e
seus respectivos aditivos para serem analisados pelos parlamentares. O
senador pede, ainda, a renovação do convite aos que não compareceram.
Cássio
Cunha Lima disse que embora a comissão não tenha por objetivo a
investigação, não deve aceitar passivamente a recusa de explicações por
parte das empreiteiras.
"Não quero imaginar que, diante dessa
recusa das empresas em vir prestar esclarecimentos, teremos de usar os
instrumentos regimentais para obrigá-las, e o instrumento próprio para
isso é uma comissão parlamentar de inquérito (CPI)", disse.
O
senador classificou a ausência de seis convidados como “uma descortesia
ao Parlamento” e afirmou que a postura defensiva das empresas de não
comparecer ou de economizar explicações “só faz acender uma luz
amarela”.
"Vocês estão jogando na retaguarda. Essa escolha por
silenciar é absolutamente frustrante. Não estamos aqui para perder
tempo, nem os senhores", desabafou.
Problemas
O
representante do consórcio que administra os dois primeiros lotes da
obra no Eixo Norte, Adriano Fernandez, foi quem forneceu mais
informações - sobre o andamento do trecho construído pela Carioca
Engenharia, Grupo Serveng e S.A. Paulista. Ele garantiu que o Lote 1
ficará pronto em maio de 2014 e o Lote 2, em novembro do mesmo ano.
No
início da reunião, Fernandez relacionou alguns fatores que atrasaram,
de uma maneira geral, as obras de transposição – cujo prazo de entrega
passou de dezembro de 2012 para 2015. Entre os problemas mais destacados
por ele, estavam pendências fundiárias que ainda existem, pendências de
ordem ambiental (como falta de liberação para o desmatamento), projeto
básico inconsistente e planilhas discrepantes em relação ao projeto
executivo liberado mais tarde, ausência de preços na planilha e atraso
na entrega do projeto executivo, principalmente de aquedutos.
A
incoerência entre o projeto básico usado na licitação e o executivo, que
é mais detalhado, foi, da mesma forma, o pior entrave apontado pelo
representante da construtora Coesa e do Grupo OAS, Elmar Varjão. Os
senadores Cássio Cunha Lima e Cícero Lucena (PSDB-PB) não pouparam
críticas.
"A nossa legislação permite licitações com projetos
básicos, mas pressupõe-se que eles não sejam tão distantes dos projetos
executivos", reclamou Cássio Cunha Lima.
Já Cícero Lucena foi
mais enfático na avaliação do trabalho feito pelo governo federal: "O
governo reconheceu, e os senhores todos confirmam, a necessidade de
aditivos para dilatação de prazos. Parte disso deve-se à inoperância e
incapacidade do governo de ter um projeto compatível com o tamanho,
dimensão e necessidade da obra."
O senador pela Paraíba também
reclamou do novo prazo estipulado pelo governo federal para entrega das
obras da transposição e as obras complementares, em 2015, portanto após
as eleições do ano que vem.
"O governo vai mais uma vez usar a transposição para enganar o povo pobre, humilde e sofrido nas eleições."
O
senador Benedito de Lira (PP-AL) lamentou a demora na entrega das obras
dando, como exemplo, o Canal do Sertão, que levará por 250 quilômetros
as águas do São Francisco. Ele disse que há 17 anos o projeto é
executado, e, no entanto, apenas 65 quilômetros foram concluídos.
"Estamos
vivendo um dos momentos mais difíceis de oito meses sem cair uma gota
de água em lugar nenhum no semiárido, com milhares de animais morrendo
de fome e sede. No século 21, milhares e milhares de brasileiros não têm
um copo de água potável para beber", denunciou Benedito de Lira.
Elmar
Varjão, cuja empresa está no consórcio do Canal do Sertão, no entanto,
defendeu o governo federal dizendo que os órgãos tem trabalhado com
urgência na liberação do que for necessário. Ele acrescentou que no lote
de transposição do São Francisco de que participa a construtora Coesa a
obra está na última fase, de correção das falhas pontuais. De acordo
com ele, os aditivos não ultrapassaram 13,58% da obra, portanto abaixo
do previsto em lei.
Nos dois primeiros lotes, informou Adriano
Fernandez, o reajuste médio foi de 21% em relação ao primeiro orçamento.
De acordo com ele, há problemas pontuais a serem resolvidos em cada
lote, mas nada que fuja à normalidade na execução de uma obra de tamanha
magnitude.
Visitas
A
comissão já tem data para visitar as obras em março. No dia 8, os
senadores estarão em parte do Eixo Norte. Nos dias 21 e 22, no Eixo
Leste.
DIARIO DE PERNAMBUCO
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